VOCÊ É HANDS ON?
Fonte Revista EXAME On Line.
Elaboração Prof. Charles David Forte - Faculdade Eniac.
Vi um anúncio de emprego. A vaga era de Gestor de Atendimento Interno, nome que agora se dá ao profissional de serviços gerais.
E a empresa contratante exigia que os eventuais interessados possuíssem, formação superior, liderança, criatividade, energia, ambição, conhecimentos de informática, fluência em inglês e não bastasse tudo isso, ainda fossem hands on.
Para o felizardo que conseguisse convencer o entrevistador de que possuía mesmo essa variada gama de habilidades, o salário era um assombro: R$ 600.
Vamos supor que, após uma duríssima competição com outros candidatos tão bem preparados quanto ela, a Fabiana conseguisse ser admitida como gestora de atendimento interno.
E um de seus primeiros clientes fosse o seu Borges, Gerente da Contabilidade.
- Fabiana, eu quero três cópias deste relatório.
- In a hurry!
- Saúde !!!
- Não... isso quer dizer "bem rapidinho". É que eu tenho fluência em inglês. Aliás, desculpe perguntar, mas por que a empresa exige fluência em inglês se aqui só se fala português?
- E eu sei lá? Dá para você tirar logo as cópias?
- O senhor não prefere que eu digitalize o relatório e envie por e-mail ou faça uma apresentação em Power Point?
Porque eu tenho profundos conhecimentos de informática.
- Não, não. Cópias normais mesmo.
- Certo. Mas eu não poderia deixar de mencionar minha criatividade. Eu já comecei a desenvolver um projeto pessoal visando eliminar 30% das cópias que tiramos.
- Fabiana, desse jeito não vai dar!
- E eu não sei? Preciso urgentemente de uma auxiliar.
- Como assim?
- É que eu sou líder, e não tenho ninguém para liderar. E considero isso um desperdício do meu potencial energético.
- Olha, neste momento, eu só preciso das três có...
- Com certeza. Mas antes vamos discutir meu futuro...
- Futuro? Que futuro?
- É que eu sou ambiciosa. Já faz dois dias que eu estou aqui e ainda não aconteceu nada.
- Fabiana, eu estou aqui há 18 anos e também não me aconteceu nada!
- Sei. Mas o senhor é hands on?
- Hã?
- Hands on. Mão na massa.
- Claro que sou!
- Então o senhor mesmo tira as cópias... E agora com licença que eu vou sair por aí explorando minhas potencialidades.
Foi o que me prometeram quando eu fui contratada...
O mercado de trabalho está dividido em duas facções:
1 - Uma, cada vez maior, é a dos que não conseguem boas vagas porque não têm as qualificações requeridas.
2 - E o outro grupo, pequeno, mas crescente, é o dos que são admitidos porque possuem todas as competências exigidas nos anúncios, mas não poderão usar nem metade delas, porque, no fundo, a função não precisava delas.
Alguém ponderará - com justa razão - que a empresa está de olho no longo prazo: Sendo portador de tantos talentos, o funcionário poderá ir sendo preparado para assumir responsabilidades cada vez maiores.
Um dia, um grupo de executivos foi visitar uma de nossas fábricas e no meio da estrada, a Van da empresa pifou. Como isso foi em uma época em que não existia o celular, o jeito era confiar no especialista, o Cleto, motorista da Van. E aí todos descobriram que o Cleto falava inglês, tinha noções de informática e possuía energia e criatividade.
Sem mencionar que estava fazendo pós-graduação...
Só que não sabia nem abrir o capô da Van.
Duas horas depois, quando o pessoal ainda estava tentando destrinchar o manual do proprietário, passou um sujeito de bicicleta.
Para horror de todos, ele falava "nóis podi vê u qui dá pra fazê" e “vamu dá um jeito neçi trosso, sô!“ e coisas do gênero. Mas, em 2 minutos, para espanto geral, botou a Van para funcionar.
Deram-lhe uns trocados, e ele foi embora feliz da vida.
Aquele ciclista anônimo era o protótipo do funcionário para quem as empresas modernas torcem o nariz:
Aquele que é capaz de resolver, mas não de impressionar.
Elaboração Prof. Charles David Forte - Faculdade Eniac.
Vi um anúncio de emprego. A vaga era de Gestor de Atendimento Interno, nome que agora se dá ao profissional de serviços gerais.
E a empresa contratante exigia que os eventuais interessados possuíssem, formação superior, liderança, criatividade, energia, ambição, conhecimentos de informática, fluência em inglês e não bastasse tudo isso, ainda fossem hands on.
Para o felizardo que conseguisse convencer o entrevistador de que possuía mesmo essa variada gama de habilidades, o salário era um assombro: R$ 600.
Vamos supor que, após uma duríssima competição com outros candidatos tão bem preparados quanto ela, a Fabiana conseguisse ser admitida como gestora de atendimento interno.
E um de seus primeiros clientes fosse o seu Borges, Gerente da Contabilidade.
- Fabiana, eu quero três cópias deste relatório.
- In a hurry!
- Saúde !!!
- Não... isso quer dizer "bem rapidinho". É que eu tenho fluência em inglês. Aliás, desculpe perguntar, mas por que a empresa exige fluência em inglês se aqui só se fala português?
- E eu sei lá? Dá para você tirar logo as cópias?
- O senhor não prefere que eu digitalize o relatório e envie por e-mail ou faça uma apresentação em Power Point?
Porque eu tenho profundos conhecimentos de informática.
- Não, não. Cópias normais mesmo.
- Certo. Mas eu não poderia deixar de mencionar minha criatividade. Eu já comecei a desenvolver um projeto pessoal visando eliminar 30% das cópias que tiramos.
- Fabiana, desse jeito não vai dar!
- E eu não sei? Preciso urgentemente de uma auxiliar.
- Como assim?
- É que eu sou líder, e não tenho ninguém para liderar. E considero isso um desperdício do meu potencial energético.
- Olha, neste momento, eu só preciso das três có...
- Com certeza. Mas antes vamos discutir meu futuro...
- Futuro? Que futuro?
- É que eu sou ambiciosa. Já faz dois dias que eu estou aqui e ainda não aconteceu nada.
- Fabiana, eu estou aqui há 18 anos e também não me aconteceu nada!
- Sei. Mas o senhor é hands on?
- Hã?
- Hands on. Mão na massa.
- Claro que sou!
- Então o senhor mesmo tira as cópias... E agora com licença que eu vou sair por aí explorando minhas potencialidades.
Foi o que me prometeram quando eu fui contratada...
O mercado de trabalho está dividido em duas facções:
1 - Uma, cada vez maior, é a dos que não conseguem boas vagas porque não têm as qualificações requeridas.
2 - E o outro grupo, pequeno, mas crescente, é o dos que são admitidos porque possuem todas as competências exigidas nos anúncios, mas não poderão usar nem metade delas, porque, no fundo, a função não precisava delas.
Alguém ponderará - com justa razão - que a empresa está de olho no longo prazo: Sendo portador de tantos talentos, o funcionário poderá ir sendo preparado para assumir responsabilidades cada vez maiores.
Um dia, um grupo de executivos foi visitar uma de nossas fábricas e no meio da estrada, a Van da empresa pifou. Como isso foi em uma época em que não existia o celular, o jeito era confiar no especialista, o Cleto, motorista da Van. E aí todos descobriram que o Cleto falava inglês, tinha noções de informática e possuía energia e criatividade.
Sem mencionar que estava fazendo pós-graduação...
Só que não sabia nem abrir o capô da Van.
Duas horas depois, quando o pessoal ainda estava tentando destrinchar o manual do proprietário, passou um sujeito de bicicleta.
Para horror de todos, ele falava "nóis podi vê u qui dá pra fazê" e “vamu dá um jeito neçi trosso, sô!“ e coisas do gênero. Mas, em 2 minutos, para espanto geral, botou a Van para funcionar.
Deram-lhe uns trocados, e ele foi embora feliz da vida.
Aquele ciclista anônimo era o protótipo do funcionário para quem as empresas modernas torcem o nariz:
Aquele que é capaz de resolver, mas não de impressionar.
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